Artigo

Há 5 anos eu e meu amigo André Almeida escrevemos o artigo abaixo, que foi publicado na Gazeta Mercantil de Fevereiro de 2004. O escrevemos durante nosso estágio na ONU, em Genebra.

Tenho muito orgulho dele pois suscitou debates à época e foi importante para a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) divulgar tanto o trabalho conjunto com os países em busca de investimento produtivo quanto a conferência que seria realizada no Brasil dali poucos meses.

Compartilho com vocês.

A foto foi tirada durante o evento :)
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INVESTIMENTO ESTRANGEIRO E DESENVOLVIMENTO.

25 de Fevereiro de 2004 - Um fato aparentemente comum: o presidente Lula ouve atentamente, com ajuda de um intérprete, o dirigente de uma corporação internacional anunciar o investimento de um bilhão de dólares no Brasil. A cena revela, no entanto, uma nova perspectiva no cenário internacional, já que o interlocutor é representante de uma corporação chinesa. Dois aspectos sugerem o seu ineditismo: o avanço da nova política externa brasileira em direção às nações prioritárias (Índia, China e África do Sul) e a presença chinesa entre os novos investidores mundiais. Essa cena aconteceu em Genebra, Suíça, durante o "Encontro de Alto Nível para Investidores Estrangeiros", organizado pelo governo brasileiro juntamente com a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), no último dia 29 de janeiro.

Durante dois meses trabalhamos - como estagiários da Unctad - na força-tarefa montada para cuidar da organização do evento. Foi para nós um privilégio fazer parte desse esforço, como os únicos estudantes brasileiros, com a oportunidade de contribuir em todo o processo. O evento teve como objetivo atrair investimentos estrangeiros diretos (IED) para o Brasil, tendo como principal foco as empresas transnacionais.

Segundo o "Relatório sobre Investimentos no Mundo" (World Investment Report), produzido anualmente pela Unctad, os IEDs no Brasil declinaram de US$ 18 bilhões, em 2002, para US$ 11 bilhões em 2003, o que representa 1/3 do que o Brasil recebeu em 2001. O encontro em Genebra foi uma tentativa de reverter esse quadro, apresentando o que o País tem feito para introduzir regras claras e sólidas.

O público-alvo do encontro eram os presidentes mundiais das maiores empresas européias, escolhidas estratégicamente pela agência Investe Brasil, além de algumas empresas asiáticas. Se não fosse possível garantir a presença do presidente da empresa, um alto executivo, com poder de decisão, poderia representá-lo. A expectativa era reunir cerca de 150 altos executivos e pelo menos 15 presidentes. Mas a previsão foi em muito superada, com a presença de 230 participantes, 50 deles presidentes (CEOs). Durante o encontro foram anunciados investimentos de cerca de três bilhões de dólares. Para que esse resultado fosse atingido, os esforços conjuntos da Unctad e do Ministério das Relações Exteriores e suas embaixadas foram decisivos.

Na sessão de perguntas e respostas, percebia-se claramente o interesse dos investidores
internacionais em dissipar qualquer dúvida sobre a real situação da economia brasileira e os próximos passos do governo. Confiança foi a palavra-chave. As questões dominantes abordaram temas como o novo marco regulatório do setor elétrico, sistema tributário (maior alvo de críticas por parte dos investidores), taxas de juros e a Parceria Público-Privada.

Em seu discurso, o presidente Lula ressaltou as vocações brasileiras e as principais características do seu povo, sua diversidade e vontade de crescer. Reafirmou também a importância das reformas estruturais e dos programas sociais de seu governo, como molas-mestras de um Estado ciente de suas capacidades e responsabilidades.

Em seu discurso de abertura, o embaixador Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad, enfatizou a necessidade de parceria entre os investidores internacionais e o Brasil na busca de resultados positivos. O embaixador também ressaltou o esforço que as Nações Unidas têm empreendido no sentido de promover o IED como poderoso instrumento de desenvolvimento econômico e de construção de ligações de investidores com economias locais.

Eventos como esse têm como função mostrar a investidores estrangeiros que o Brasil acolhe seus investimentos e faz sua parte para recebê-los. O governo brasileiro deixou claro que a busca de novos investimentos deve preservar um projeto de Nação que priorize a soberania nacional e os interesses do povo brasileiro. Reunir tantos investidores em torno de um único país não é tarefa fácil, mas nesse encontro internacional o governo brasileiro conseguiu dar um grande passo no sentido de alcançar as metas de investimento para 2004.

Os calorosos aplausos ao final do encontro podem ser interpretados como um reconhecimento à Unctad e ao governo brasileiro, que darão continuidade à parceria em junho deste ano, quando realizam em São Paulo o Unctad XI, décima primeira edição do encontro quadrianual da organização, tendo como tema principal "Buscando Coerência entre Estratégias Nacionais de Desenvolvimento e Processos Econômicos Globais em Direção ao Crescimento Econômico e ao Desenvolvimento". O encontro do mais alto organismo decisório da Unctad vai fixar prioridades e linhas de atuação. Será, sem dúvida, um dos eventos mais expressivos que ocorrerão no Brasil este ano, com previsão de 4 mil participantes, entre chefes de Estado, ministros e tomadores de decisão dos 192 países membros da organização.

kicker: IEDs no Brasil declinaram de US$ 18 bilhões, em 2002, para US$11 bilhões em 2003

(Gazeta Mercantil/Caderno A3)
(André Almeida e Frederico Paiva - Alunos de Relações Internacionais na PUC-Minas e estagiários da Unctad.).

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