Rubem Dantas




Ontem fui a um show.

Há alguns dias a minha amiga Cabral enviou-me um email com uma dica de um show que haveria em Madri, de um percusionista brasileiro muito conhecido aqui na Espanha, que foi um dos responsáveis pela última modernizada que o flamenco teve, ao introduzir arranjos percussivos no estilo espanhol.

Seu talento me impressionou.

O espetáculo foi um dos grandes exemplos do que um grande maestro, miscigenante como Fela Kuti, podem fazer.

Uma banda formada por 8 pessoas: um trio de metais composto por um sueco, um venezuelano e um francês, um percussionista e um violinista espanhóis, um tecladista alemao, ele, na percussao, brasileiro e um baixista panamenho.




De repente, em clima festivo, foram se juntando famosos músicos marroquinos, indianos, argentinos, nigerianos, com seus respectivos instrumentos nacionais. Todos juntos.

Ora instrumental, ora com cantores convidados, ora com vocal do próprio Rubem Dantas.

Teve até Armandinho, filho de Armandinho, criador do trio elétrico junto a Dodô e Osmar.

Nas últimas músicas haviam 23 músicos no palco. Imaginem o quanto fiquei impressionado.

Cada um com seu instrumento, fazendo um som com uma mensagem universal, uma linguagem universal.

A linguagem da riqueza da diversidade.

E todos dançaram. Muito.

Site: www.rubemdantas.com

Colegas de Mestrado


Na minha sala de mestrado o pessoal é bem tranquilo. De diversas nacionalidades, embora a maioria seja espanhol.

Estamos bem unidos, ficamos muito juntos, embora as saídas tenham demorado um pouco para comecarem. Mas agora começou e já temos até datas marcadas pra todas as semanas.

Tem colombiano, uruguaia, mexicana, brasileiros, espanhóis...

Amizade que vai durar muito tempo, tenho certeza.

Kel em Madrid



Semana passada recebi recebi a visita da Kel aqui em Madrid, visita pra lá de especial. Ela veio só, já que seu marido estava trabalhado em Barcelona.

Já no primeiro dia fomos num ótimo bar de tapas aqui em frente à minha casa, onde ficamos horas botando a conversa em dia, bebendo cañas e experimentando as tapas.

No segundo dia, saímos a caminhar por Madrid, por todo lado. Fomos ao centro, ao parque do Palácio Real, onde demos o vexame de comprar um vinho e, sem saca-rolhas, mobilizarmos várias pessoas que estavam a nossa volta para abri-lo :)

Foi muito legal nessa hora, quando um alemao veio nos ajudar. Como ele viu que estávamos custando a abrir a garrafa e nao conseguindo ele soltou a pérola:

- Don´t worry, in German we say: First the work then the joy! (Nao se preocupem, na Alemanha dizemos: Primeiro o trabalho, depois a alegria). Quase morremos de rir.

Depois saimos de bar em bar no charmoso bar de Malasaña, onde tivemos a companhia de Manuel,colega de trabalho da kel, madrilenho. Ele sabe tudo de Madri e deu dicas valiosas.


Teve ainda parque do Retiro, sanduíche de calamares, museu Reina Sofía.

Obrigado, Kel. E volte sempre!

O incidente no Chile.

O melhor até agora.

Tudo começou quando o presidente venezuelano Hugo Chavez chamou o ex primeiro - ministro espanhol, José Maria Aznar, de fascista, em vários momentos da Cúpula Ibero-Americana no Chile. Como forma de resposta, o atual primeiro ministro José Rodriguez Zapatero foi exigir respeito à Espanha. No calor da discussao, como Chávez nao parava de falar, o rei, que estava ao lado de Zapatero, mandou o líder venezuelano se calar.

Foi preciso um chefe de Estado europeu mandar o Hugo Chávez calar a boca. Por quê ainda nao fizeram isso aí na América Latina?

Por quê ele tem que chamar um ex-presidente de governo de outro país de fascista? Segundo o dicionário, fascista é aquele líder autoritário, que quer impor idéias, no que o Chavez é mestre.

Gostei muito da atitude do rei, que se porta de maneira muito mais ativa politicamente que outros reis, com mais açao e menos pompa.

Parabéns também ao primeiro-ministro Zapatero, que se saiu muito bem no incidente.

Veja que excelente a reaçao real.


Encontro Espanhol para a Cooperaçao Internacional


Logo na minha primeira semana tive a excelente oportunidade de ir a um seminário promovido pelo governo espanhol acerca de como a Espanha trabalha nos temas mais sensíveis da cooperação internacional.

Além do Primeiro-Ministro José Lui Zapatero e da Rainha Sofía, vários especialistas estiveram presentes, além de ativistas como o cantor senegalês Yousoou N´Dor, considerado pela Times uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e que tem desempenhado um papel muito importante na África, Naomi Mann, entre outros.

As discussões foram de alto nível, sem arroubos provocativos, nada muito idealista e muito, muito preocupadas com a qualidade e os novos rumos da ajuda internacional.

Muito bacana foi a mesa que estavam o filósofo catalão Josep Ramoneda(que recomendo e muito seus textos que podem ser encontrados na Internet e na edição de domingo do El País) e Youssou N´dor, onde falavam de cultura e relações internacionais.
Trechos do debate podem ser encontrados em: www.encuentrocooperacion.es/noticias_detalle.php?id=17&cabecera=prensa&lateral=noticias

No encontro mostrou-se o engajamento cada vez maior da Espanha com a qualidade da sua cooperação com países em desenvolvimento. Além disso, mostrou-se como o atual governo é mais compromissado com a questão que os anteriores.

Evento essencial pra tatear o terreno :)


Mesa principal do evento.

Eu e Youssou N´Dor, cantor senegalês.

Pra quem nao leu!




Artigo muito interessante sobre a Espanha, que recebi pela internet. Não sei quando saiu na Veja. Achei muito pertinente o ponto de vista do autor.

Ensaio: Roberto Pompeu de Toledo
A irresistível atração
da insensatez

Notas de um caderno de viagem: a Espanha, mesmo tão próspera, sofre a febre dos separatismos

Se o leitor pensa que um país próspero, bem aquinhoado pela natureza, com problemas sociais bem encaminhados e de povo educado está livre de crises de irracionalidade, atente para o caso da Espanha. A Espanha é um dos melhores países para se estar, no momento. É bonito, rico em monumentos históricos de variadas épocas e culturas, rivaliza nas artes com o que há de melhor no mundo, as cidades são animadas, o clima é agradável, o povo é simpático, a comida é boa, o vinho idem e o pão, esse primordial indicador do bom trato dispensado por um povo a si próprio, é de primeira qualidade. A isso se somam as conquistas, recentes, de uma democracia impecável e de uma prosperidade que, in loco, salta à vista, e à distância, da perspectiva destes Brasis, se mede pelo avanço dos investimentos da pátria que outrora foi de Dom Quixote e que hoje é do Banco Santander, da editora Santillana, da Telefónica e da administradora de rodovias OHL.

Não era para estar satisfeito? Normalmente era, mas o que é "normalmente", na vida de uma nação (ou na vida em geral)? A velha questão do separatismo ferve. A Constituição de 1978, que enterrou a ditadura franquista, garante às regiões alto grau de independência. "Comunidades autônomas" é como elas são chamadas, e o nome faz jus à coisa. O estatuto compensa com largueza o sufoco do período franquista, em que o poder central caía sem dó até sobre o direito de a Catalunha, o País Basco e a Galícia se expressarem em seus idiomas. Passados trinta anos de liberdade, governos autônomos e uso e abuso das línguas locais, era para todo mundo estar satisfeito. Em setembro, no entanto, o lehendakari (presidente) do País Basco, em desafio a Madri, marcou um plebiscito sobre a independência para o ano que vem. Na cidade de Girona, na Catalunha, o rei Juan Carlos foi recebido com apupos e desordens, episódio a que se seguiu, nas semanas seguintes, a queima de retratos do rei em várias localidades catalãs.

O separatismo do País Basco, por ter no terrorismo uma de suas expressões, é o mais conhecido mundo afora. O da Catalunha é para um estrangeiro mais surpreendente, por sua extensão, e mais incompreensível, por se manifestar na região mais rica e historicamente mais cosmopolita da Espanha. Merece um brinde com a melhor cava (o espumante catalão) quem descobrir em Barcelona mais de uma bandeira espanhola para cada cinqüenta da Catalunha, e merece outro quem achar mais de uma referência, nos monumentos ou nomes de ruas, a fatos da história da Espanha, contra outros cinqüenta referentes à história regional – perdão: "nacional" é a palavra correta – da Catalunha. O jornalista brasileiro Ricardo A. Setti, que visita Barcelona com freqüência, contou num artigo que placas de automóvel têm o "E" de Espanha substituído por seus proprietários por um "CAT" de Catalunha, "sob a cumplicidade da polícia local".

É no culto à língua que mais se manifesta o nacionalismo local. O povo é bilíngüe, e nenhum catalão deixará de falar espanhol com um estrangeiro, mas a Cataluña oficial cada vez mais deixa de sê-lo. Nomes de ruas e de estações de metrô só se vêem em catalão. Menos mau, para o estrangeiro de língua latina, que dá para entender. É até pitoresco saber que se está circulando pela "Avinguda Diagonal" e ler num bar o aviso de que não se vendem "begudes alcohòliques a menors de 18 anys". Mas há na insistência pela exclusividade da língua um traço que, fácil, fácil, descamba para a intolerância. A Generalitat (governo local) expediu, semanas atrás, instrução aos professores para que vigiem se, no recreio, as crianças continuam falando catalão. Uma escritora uruguaia radicada em Barcelona, Cristina Peri Rossi, foi excluída do programa de que participava na Rádio da Catalunha por se expressar em castelhano.

As relações entre o governo espanhol e a Catalunha são como entre um pai que se arma de paciência para não brigar e um filho que não se cansa de provocar. A chantagem está implícita no discurso do filho: "Olha que eu me separo, hein?". O catalanismo não se contenta em se afirmar dentro da Espanha; só tem graça fazê-lo contra a Espanha. E aqui chegamos ao centro da questão. País Basco e Catalunha, como partes da Espanha, integram um dos maiores países da Europa, dos mais prósperos do mundo e que tem como língua franca uma das mais faladas do planeta. Caso o País Basco se separe, encolherá às proporções de pouco mais que um Luxemburgo. A Catalunha virará quando muito uma Bélgica. É isso que querem? A pura racionalidade não o aconselharia. Mas, como se sabe, não é a racionalidade que move as nações (nem as vidas).

Racismo

A questão da imigração na Espanha também é muito delicada, com acontecimentos que acirram, e muito, os ânimos. Um desses aconteceu semana passada, quando uma jovem equatoriana de 22 anos foi agredida dentro de um trem em Barcelona e as câmeras de vigilância do mesmo flagrou os chutes e socos que o jovem espanhol aplicou na jovem, enquanto a xingava e pedia pra que voltasse para seu país de origem.

A questão tomou conta dos jornais, da TV, das mesas redondas, das salas de aula...

Claro que as discussoes chegaram em um nível insuportável de exploração do caso por parte da mídia mas, no geral, gostei muito da reaçao da maioria dos espanhóis e da imprensa séria que condenou veementemente os ataques. Nos debates televisivos havia apenas um consenso, de que se tratou de algo brutal. O que não quer dizer que a Espanha seja um país consensual no que diz respeito à imigração.

Nenhum político de extrema direita pra cumprimentar o agressor, como se veria em outros países.

Abaixo o vídeo da agressão, que foi repetido exaustivamente por aqui.


Chegada a Madri



Depois de uma semana de preparativos em Barcelona peguei o ônibus pra Madrid, sem saber direito o que ia encontrar pela frente. Cheguei no terminal de Américas, eram 5 da manha, tenso, pois não sabia nada acerca do sistema de transporte da cidade, se ia ter que pegar táxi, metrô. Peguei o metrô, pro lado errado, mas, mesmo assim, deu tudo certo.

Depois de encontrar com alguns amigos (Rafael e Patrícia) desistimos do plano inicial, que era alugar um apartamento juntos e alugamos um quarto, cada um em um canto de Madrid, o que acabou se tornando uma decisão bastante acertada pois convivemos com espanhóis, a língua melhora, imergimos na cultura, entre outras vantagens.

Depois de 3 dias já estávamos instalados, pronto pra enfrentar o curso e a cidade :)

Barcelona



Barcelona foi incrível. Encontrar e reencontrar tantas pessoas bacanas numa cidade tão legal foi, realmente, a melhor maneira de começar essa nova jornada.
Fiquei hospedado na casa do Balde e da Kel. Eles estão muito bem, morando numa região super bacana de Barcelona, perto de meios de transporte e de todas as facilidades.

Não paramos...acordávamos, saíamos para a rua a conhecer a cidade, ou boa parte dela. Tive a oportunidade de conhecer o El Raval, o bairro Gótico, o charmoso El Born, La Barceloneta, a Champagneria (pela banalização da Cava) e, o melhor de tudo, a praia.

Barcelona surpreende pela qualidade de vida. Essas são as Bicing´s, bicicletas públicas, que já fazem parte do sistema de transporte da cidade. Implementado pela governo local, permite que, ao pagar pequena taxa, o usuário se locomova pela cidade, deixando-a em outro ponto para ser utilizada por outro usuário. Exemplo de planejamento.

Deu pra entender, pelo menos superficialmente, a "rivalidade" dos catalães com os espanhóis, entender um pouco da história do lugar. Fiquei impressionado com a cidade, muito cosmopolita, rica e cheia de atraçoes. Confesso que não visitei tudo o que podia pois quero voltar, com mais calma.

Além de estar numa cidade linda, o melhor de tudo foram as companhias. Dei sorte da minha visita coincidir com a da Roberta e do Alexandre, casal amigo, que está morando em Dublin. Além disso, conhecer a casa do Fred Nóbrega e de sua esposa Anne, conhecer a Tininha e Ricardo, Daniel e reencontrar a Cabral e o Siscu, não teve preço.

Obrigado pessoal e espero voltar em breve!

Mamar no mundo!


Oh! mamãe,

eu quero é mamar no mundo.
Quero, papai,
saber no fundo.

Negar a boca do pai
para eu mesmo descobrir,
desesperar-me de medo
perante cada segredo

Eu sofro de juventude
essa coisa maldita
que quando está quase pronta
desmorona e se frita.

Negar tudo que é sagrado
para aprender a rezar
entrar no quarto da lua,
vestir a língua da rua.

Eu sofro de juventude

Tom Zé