Back in Bahia!

Há muitos anos, naquela época da descoberta da vida, de novas palavras, de novos sons, me deparei com uma música que me deixou meio confuso, meio sem saber o que era aquilo que cantavam, que tocavam.

Escutei em um Cd, tinha uns 13, 14 anos.

Me disseram que aquilo era um rock progressivo. Não acreditei. Não dava para rotular tamanha peça que me pregaram, tamanha loucura, tamanha inspiração.

Me perguntava como podiam fazer aquilo? Como?

Garanto que é uma mistura de saudades adquiridas forçosamente, em um exílio em Londres, com pitadas de Brasil e da alegria dessa gente, que só conhece quem já viu. Garanto que tem muito daquela Londres da década de 60, 70, que abriu a cabeça desses vanguardistas ainda mais.

A música é Back in Bahia, do Gilberto Gil, uma de minhas músicas preferidas.

Como a mesma fala de saudade, em todas as situações que sinto saudade penso ou tento escutar a mesma.

Segundo o mesmo: "Era o primeiro verão na Bahia depois que eu tinha voltado de Londres, e eu fui à festa de Nossa Senhora da Conceição em Santo Amaro da Purificação. Eu estava na casa onde Canô, mãe de Caetano, estava dando a festa; vendo as pessoas queridas e a alegria que emanava delas, da lembrança da saudade que eu sentia dessas e outras coisas em Londres. Aí veio o impulso para escrever a canção - que eu comecei ali, letra e música juntas, de cabeça, e complementei no dia seguinte, já na casa de Sandra, na Graça, em Salvador.

Back in Bahia se baseia em motivos musicais muito íntimos, nordestinos - improviso, embolada, galope, martelo -, e em modos cordélicos, com rimas rítmicas [e também internas], típicas do versejar nordestino, e versos simétricos [quase todos de 16 sílabas]: entre eles, o 'de vida vivida dividida pra lá e pra cá', de que eu mais gosto: poesia pura, concreta, como o 'fazer o canto cantar o (rimando com cântaro) o cantar', em Palco."

Abaixo, Gil em sua performance de Back in Bahia, em seu primeiro show de volta do exílio em Londres, em 1972, em conjunto com Caetano, que faz uma palhinha no vídeo.

Londres fez um bem pra essa gente, não é mesmo?



"Hoje eu me sinto
Como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo
De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá"

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