Chico Ciência



Compartilho com vocês um depoimento do Gilberto Gil sobre um dos maiores talentos da música brasileira que, em apenas 3 anos, transformou uma cena músical local em uma das mais fervilhantes cenas culturais do mundo pós-tropicalismo, o manguebeat (ou manguebit para os tecnológicos).

Firmado no mangue de Recife, Chico Science levou os ritmos regionais e a ficção científica a um limite belíssimo de arte despropositada, radiante, com um pé enfiado na lama e os ouvidos e mentes ligados nas tendências contemporâneas. Pensou localmente, agiu globalmente e localmente.

Sou fã de carteirinha, dele e de toda a galera que o acompanhou. Não me lembro de ter passado um mês sem escutá-los, desde que os ouvi pela primeira vez, em um clipe na MTV, vestidos de maracatu e com os corpos sujos de lama dizendo: "um passo a frente e você ja não está mais no mesmo lugar."

Eis o depoimento:

“Dez anos sem a presença dele... faz muita falta. Se estivesse entre nós, provavelmente estaria hoje levando avante o seu trabalho extraordinário que ele começou com o seu mundo Manguebeat lá em Pernambuco, retomando, reprocessando, redinamizando, requalificando aspectos da música popular, da vida popular, da cultura popular de Pernambuco.

Fazendo isso tudo com um gosto extraordinário pela inovação e pela renovação, pelo aporte de novas possibilidades tecnológicas de linguagem, da capacidade de leitura da realidade, outros instrumentos novos, outras ferramentas que ele trouxe para trabalhar. Um talento extraordinário em pouco tempo de vida e de trabalho deu a Pernambuco uma possibilidade enorme de requalificação da presença pernambucana na vida musical brasileira e trouxe, sem dúvida, elementos importantíssimos para a renovação da fala musical brasileira, do modo de dizer e do modo de se expressar musicalmente no Brasil.

Eu tive a oportunidade de estar com Chico aí no Recife, muitas vezes aqui no Sul, no Rio de Janeiro. Tive com ele em Nova Iorque em um programa memorável, uma apresentação conjunta que fizemos no Central Park. Gravei com ele. Tenho uma lembrança extraordinariamente fresca da presença dele entre nós. Presença que está aí até hoje, que se desdobrou. E não é à toa, não é por outra razão que a força extraordinária do empenho dele, que o Manguebeat vingou, que outras manifestações do mesmo gênero, do mesmo quilate, também vingaram em Pernambuco e em outros lugares.

Na verdade, a gente fala de um período contemporâneo da música popular brasileira. Chico é um dos grandes promotores dessa renovação, dessa efetivação de um novo tempo, de um novo período musical brasileiro. No mais, saudades.”

Gilberto Gil

Clipe de Chico com o Gil:


Cadê Roger, Cadê Roger, Cadê Roger, Ô

1 comentários:

anapeps dijo...

Fredão, querido! Olha que coincidência... Eu fui ao trabalho hoje escutando o disco "da lama ao caos" e pensava no altíssimo nível criativo, rítmico, do Chico Science & Nação Zumbi. Muita intensidade em tão pouco tempo! Agora à noite, vejo seu post sobre ele! Me emocionei, de verdade! Valeu!
Abraço grande! Um pãozim com tomate pra ti!