Maputo

Reproduzo abaixo um post do Blog Pé na África (link à direita), do jornalista Fábio Zanini, sobre Maputo, a capital moçambicana, lugar que me traz boas memórias, grandes saudades.

É uma descrição perfeita da cidade, de suas ruas e de seu povo. Confesso que me emocionei.

Maputo: brisa, silêncio e pastéis

MAPUTO (MOÇAMBIQUE) – É a segunda vez que venho a Maputo (a primeira foi há cinco anos), e embora a capital moçambicana esteja muito mais movimentada agora, com o som de britadeiras provando que esta é uma economia em expansão rápida, a cidade continua intrigantemente pacata.

Ontem à tarde fui dar uma volta pelo centro e a pergunta que me fiz foi: isso aqui é mesmo o centro? O estereótipo da capital africana, congestionada, barulhenta, feia e suja, aqui não se aplica. Não se trata de repetir a máxima consagrada pelo presidente Lula, de que “é tão limpinho que nem parece a África”. Maputo é uma cidade decididamente africana, com suas minivans atropelando quem bobear no meio da rua, camelôs vendendo DVDs piratas e máscaras artesanais, e os inevitáveis anúncios de feitiçaria.

Mas tem um toque meio caribenho, avenidas largas, o oceano Índico na paisagem, e mais árvores do que você jamais verá no centro de São Paulo.

Quando os portugueses decidiram controlar o sul da África, lá pelo século 15, adotaram a estratégia irretocável de controlar suas duas pontas, a do Atlântico e a do Índico, e o resto viria como conseqüência. Não foi bem assim que funcionou, mas isso é outra história. As duas cidades que viraram cabeça de ponte do projeto, Luanda de um lado e Lourenço Marques (hoje Maputo) de outro, não poderiam ser mais diferentes.

Luanda é um inferno de congestionamentos, gente gritando, arranha-céus e favelas monumentais. Maputo não adquire um ar metropolitano nem na hora do rush. Ontem levei exatos 15 minutos às 18h30 do centro da cidade até o aeroporto, distante 10 km. De noite, voltando para o hotel, notei um casal correndo de maneira estranha pelas calçadas. Depois outro, depois um grupinho, depois dezenas e dezenas, inclusive um branco gordo que se matava para subir uma ladeira. Eram pessoas fazendo cooper em pleno centro da capital do país, como se Maputo fosse um grande Central Park.

Luanda torna-se uma zona proibida após certa hora da noite. Em Maputo, caminhar pelo centro de madrugada, como fiz ontem ao sair de um restaurante, é uma delícia. Luanda é feia, perigosa, Maputo tem alamedas e tiozinhos sentados nas dezenas de pastelarias da cidade, tomando seu cafezinho da tarde.


O angolano fala rápido, sorri pouco, às vezes parece agressivo a quem não está acostumado. O moçambicano é todo simpatia, e assumidamente opera em marcha lenta.

Por outro lado, é Angola hoje quem dita o ritmo cultural da África lusófona, e de grande parte da África, aliás, com suas jazidas de petróleo gigantescas, uma economia vibrante e as mais interessantes expressões culturais dessas bandas, do kuduru (uma espécie de funk local) ao rap à crescente paixão deste continente pelo basquete.

Se você quer estar onde as coisas acontecem na África, é para Angola que deve ir. Mas se quer viver bem, comer um bacalhau e um pastel de Belém e aproveitar a brisa oceânica, sua opção é Maputo.

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