Brasil

Em 2005 escrevi em um outro blog acerca da necessidade de o PSDB e o PT juntarem-se, pelo bem do Brasil.

Artigo muito bom, embora com alguns trechos que discordo e "um pouco de palavras panfletárias vermelhas" que ando abominando há um tempo, mas é válido por estar sendo discutido na grande mídia brasileira.

Saiu na Folha de Sao Paulo, dia 06/02/2008.

Faço minhas (quase) todas as palavras abaixo!

ELIO GASPARI

O PT e o PSDB podem se entender


A idéia é condenada pelos comissários petistas e pelos demófobos do tucanato, mas não sairá do ar

RENASCEU EM Belo Horizonte a plantinha de um entendimento do PT com o PSDB. O governador Aécio Neves e o prefeito petista Fernando Pimentel discutem a possibilidade de lançar uma candidatura comum à Prefeitura de Belo Horizonte. A viabilidade desse projeto é pequena, mas a grandeza da idéia é excepcional.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já disse que, no essencial, petistas e tucanos são mais parecidos do que se pensa. Lula é mais parecido com Aécio Neves do que com Edison Lobão e José Serra parece-se mais com Nosso Guia do que com a turma de economistas da Casa das Garças. Até mesmo as picuinhas de Nosso Guia com FFHH (e vice-versa) são pouco mais que um exercício de futilidade.
O PSDB tem uma bola de ferro conservadora amarrada ao tornozelo. O PT tem outra. Em 2003, quando chegou a ser discutido um grande acordo com os tucanos, o comissariado petista preferiu o caminho da fisiologia que desembocou no mensalão.
A democracia e o progresso chilenos devem sua sustentação política ao entendimento da Democracia Cristã com o Partido Socialista e, desde 1989, alternam-se na Presidência do país. Alianças semelhantes aconteceram na Alemanha e na Itália. São pouco os países onde partidos tão parecidos mantêm-se tão distantes.
A crise financeira americana será um saudável detergente para limpar as ortodoxias que empestearam o mandarinato da ekipekonômica tucana.
Hoje vêem-se republicanos convertidos ao intervencionismo econômico e democratas defendendo refrescos para caloteiros do mercado imobiliário. A deificação do mercado foi à breca até mesmo na França, onde um governo de direita explícita anunciou que não permitirá a canibalização de um grande banco abalado pela vigarice de um papeleiro. Esfarelou-se a retórica da sabedoria que beatificou (e enriqueceu) economistas que fizeram o circuito do poder para a banca e da banca para o poder. Tudo fica mais fácil porque a retórica do esquerdismo petista foi à breca muito antes, em 2002, quando Nosso Guia assinou e cumpriu a Carta aos Brasileiros, preservando as bases da gestão econômica tucana.
As conversas de Pimentel com Aécio ainda são municipais. Algumas peculiaridades da política mineira favorecem o compromisso que negociam. A qualidade de suas administrações inibe a suspeita de fisiologismo que mancharia um acordo semelhante em Estados como Alagoas. O entendimento tem a vantagem de começar por baixo, testando uma idéia que está acima do quadro político de Belo Horizonte.
Acordos dessa magnitude são tão difíceis que, quando ocorrem, parecem milagres. Esse foi o caso da formação do bloco que em 1984 elegeu Tancredo Neves para a Presidência da República. O momento mágico do avô de Aécio Neves foi favorecido pelo ocaso de um regime debilitado por um crise econômica. Felizmente, esse ingrediente está fora da paisagem. Em geral, os grandes acordos fenecem na infância, com jeito de sonho impossível. As conversas de Fernando Pimentel com Aécio podem dar em nada. Talvez não consigam voar acima da Prefeitura de Belo Horizonte. Não faz mal. Por mais que uma aliança do PT com o PSDB seja condenada pelos comissários do aparelho petista e pelos demófobos do tucanato, essa possibilidade jamais sairá do ar.

0 comentários: